quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Olhando para ela seria praticamente impossível dizer o que se passava em sua cabeça. Por horas tinha um olhar perdido, o semblante sério e um coração acelerado, mas isso não dava para perceber olhando para ela, talvez nem ela percebesse, tamanha a sua perda entre os pensamentos. Desejava saber. Acreditava que sabendo poderia descansar de sua impaciência e esperar se tornaria mais tranqüilo. Seria difícil dizer o que passava se não passasse também e seria necessário um pouco de vodka para que, ainda que analisado racionalmente tudo isso, fosse mais ameno. Talvez seu cérebro ou talvez seu coração, essa loucura toda escapava entre suas sinapses e seus impulsos e batimentos cardíacos de uma forma que apenas um louco ou apenas um que não dissesse ter nada de louco poderia compreender. Era tudo muito confuso e ela já era um poço de confusão. Sentada naquele café, pouco importava se aquilo precisava de mais ou menos açúcar ou se tudo precisava de um pouco mais de clareza, um pouco mais de certeza, uma idéia de que a busca pela excelência de forma continua é a única maneira de aproximar-se ao máximo da perfeição. Isso cansa, mas seria difícil descansar completamente sem isso. Quase seis. Logo o burburinho de uma cidade nervosa em busca de descanso iria vir à tona e se encheriam os cafés com aqueles que ainda com um tempinho, decidiram relaxar um pouco, as ruas se encheriam de carros com motoristas saturados de trabalho e de todo o congestionamento. Ela, porém, continuava imóvel, senão pela mão que mexia o café de forma quase que carinhosa, ou ainda desatenciosa do seu objetivo de mistura. A não ser a mistura de pensamentos que surgiam quase que atropeladamente pela sua cabeça e que não a deixavam. A menos, saíra da abstinência de uma possível inspiração.