domingo, 1 de março de 2015

Poderiam ser 1000 metros. Eis o porquê não de uma piscina

Tomamos certamente muitas decisões erradas na vida. Mas as mais erradas consistem certamente em não se adequar ao tipo de espetáculo e ir nele ainda assim. Ou ainda não perceber mesmo depois das cortinas abertas que estamos pagando um show de Chico Buarque pra ver um surdo tocando triângulo. Um surdo longe de ser capaz de criar qualquer sinfonia "Bethoveniana". Assim, com tanta superficialidade não percebida ou ignorada, preparada pra mergulhar 1000 metros, vivi anos numa piscina infantil, com um equipamento pesadíssimo e desnecessário. A gente custa a abrir os olhos na vida, principalmente pra perceber as pessoas rasas. Custamos a aprender a coisa mais simples da vida: Julgue as pessoas primeiramente por suas atitudes. Se não puder dizer mais: Julgue as pessoas apenas por suas atitudes. Não aceite mergulhar em rasas emoções, rasos relacionamentos, rasas conquistas. Não aceite preparar-se por completo, aprender a nadar, a respirar, a prender a respiração, a bater os pés pra jogar-se numa piscina de 60 centímetros com um cilindro de 5 quilos. Não é uma suposição: Você vai se machucar. E o machucado vai ser feio. É preciso avaliar-se. É preciso equivaler. É preciso saber onde está mergulhando. E nem tudo, infelizmente, é o que parece. Somos, enquanto seres humanos, facilmente adaptáveis. Só não podemos ser rasos, tampouco mostrarmos nosso profundo pra aqueles que não tem as condições de navegar. Muitos tesouros ficarão escondidos, vários peixes não serão descobertos, oxigênio vai faltar pra retornar a superfície. Assim, tão arriscado quanto pessoas profundas mergulharem em pessoas rasas é deixar pessoas rasas sem orientação num oceano. Elas não merecem desbravar as maravilhas de um oceano, nem tampouco são aptas. Nunca serão. Pessoas rasas não se aprofundarão. Pessoas profundas, ainda que em períodos de seca, não deixarão de ser profundas. Não há como transformar um tanque no oceano pacífico, mesmo com toda a força de vontade, nem tampouco o sol, mesmo com toda a sua temperatura elevada, irá em vias normais, secar um oceano. Sendo assim, livre-se do equipamento que pesa, do incômodo das roupas, da necessidade de mais espaço. Saia da piscina, vá pro oceano. Lá tudo isso é necessário, é sadio, é coerente.Não ofereça a sua melhor performance a uma plateia desinteressada, não seja tudo pra quem não consegue ver isso. Não desespere-se pra ser o melhor pra quem não se importa. Porque assim, corremos o sério risco de, depois de conhecer apenas piscinas, achar que não existem mais oceanos. Ou, de tão machucados com as quedas nas piscinas, prejudicarmos nosso desempenho ou danificarmos nosso cilindro de oxigênio. É preciso entender que mais que precisarmos, merecemos mais e existe mais. E não importa quão longo seja o caminho, não importa em quantas ruas sem saída seu mapa meio bagunçado te leve. Não tem problema se talvez você tenha esbarrado em algumas piscinas. Se você souber identificar e tiver força pra não adentrar novamente, o caminho sempre trará a gratificante sensação de te trazer a profundidade adequada, a temperatura adequada, a beleza adequada. A amizade adequada, o amor adequado,a vida adequada, a metáfora adequada. 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Amnésia Induzida

Cansei! Pela milionésima vez eu cansei. Cansei de tomar minhas decisões baseadas nas suas, cansei de contra argumentar, de reagir. Preciso agir, argumentar. Preciso, mais do que qualquer coisa, tirar você completamente da minha vida, da minha linha de visão, do meu caminho. Tomar coragem pra dizer não ao meu coração nessa mania de bater insistentemente em quem bateu tanto nele. Cansei. E preciso parar pra descansar, tomar fôlego, dar tratamento de choque de amnésia induzida. Isso, amnésia induzida. Tirar você do meu coração como quem tira um band-aid de uma ferida ainda aberta pra cicatrizar mais rápido. Parar de tapar o sol com a peneira, parar de acatar suas decisões. Parar de aceitar o que você disser, se você disser, quando você disser. Parar, mais uma vez, de reagir. Olhar pra mim mesma, tirar você de cena, tirar meu time de campo porque a competição não merece meus "camisas 10". Tirar as lágrimas dos olhos sem derrama-las. Sentir toda a dor de decidir cuidar de mim, pra colher os frutos de ser feliz e me bastar. Preciso não ter rastros de você pra me curar de uma vez. Fazer quimioterapia no coração, deixar cair os fios de cabelo dolorosamente pra crescer de novo mais forte, ter enjoos de uma ressaca de um drink forte pra aprender a beber. Desaprender a amar essa idéia que tenho de você dissipando a possibilidade dela existir, encarando os fatos. Você não deixou muito difícil fazendo tudo que fez, embora seja difícil pra mim sendo todo esse poço de sentimentos que sou. Mas "se nenhum amor dura pra sempre, nenhuma dor também".Cansei! Vou descansar desse amor de caminhadas duras e bolhas nos pés.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Sobre não deixar ir, mas fazer ir.

Tira sua paz em questionamentos absurdos, tira seu sono em sonhos de retorno, tira sua crença nas pessoas com mentiras deslavadas. Tira seu orgulho com comparações absurdas. Atira no seu ego e no seu peito. Preferia que viesse a mão armada. No fim, até veio. E foi bom que viesse, afinal. As vezes é preciso um golpe muito duro pra que a gente perceba que com a estratégia que temos, perderíamos a guerra. Melhor perder a batalha. Quando muda-se a estratégia, e você finalmente desiste da conquista de um território e decide conquistar o mundo, eis que lhe aparece o comandante da tropa inimiga, ex aliada e ataca de dentro do seu território. Você esqueceu alguns soldados lá, o comandante mandou o ataque. Algumas casas queimadas, armas perdidas. Mais um período de reconstrução do seu território e você volta a conquista do mundo. Mas não expulsa os soldados restantes. No fundo, você deseja que ali eles fiquem. Não é pra manter o inimigo próximo, é pra ter lá no fundo a esperança de que não houve uma guerra. Bobagem. Com isso você mantém uma guerra em si mesmo. O segredo pra tirar uma árvore é arrancar as raízes. Podar não muda muita coisa, deixar uma parte do caule inviabiliza o espaço que ele ocupa. Não dá nem pra colocar um balanço, nem pra ter os frutos e nem pra construir uma casa no local. Mas você segue em frente, deixando esses soldados. E eles, agora sabendo que são permitidos, começam a construir família, ocupar moradas, contaminar coisas, ocupar ESPAÇO. E você, sem perceber, começa a ter que administrar um território próprio, alimentando tropas inimigas. A bagagem e o trabalho voltam a pesar, os questionamentos voltam a surgir, o sono, os sonhos. Você entra em desespero. E sabe que é forte, já foi muito pior, os soldados já foram em maior número, o comandante já esteve presente. E passa a sofrer por migalhas. E passa a aceitar migalhas. E quando se dá conta, você pensa: Não sou mais boba, agora sou burra. É preciso cortar pela raiz, expulsar as tropas inimigas de uma vez. Cuidar do seu território apenas com quem se importa com ele, não com quem quer atear fogo na primeira oportunidade. Orgulhar-se de decidir e não só acatar decisões. Olhar-se e perceber que é muito pouco perder pra alguns soldados. É como vencer uma guerra e dar espaço pra perder com as batalhas. Cuidar de si mesmo não é tarefa fácil. A gente se preocupa demais com tudo, se preocupa com o outro. E acha que isso é por nós, mas é contra nós. Agir com a razão não é fácil. Não é bonito, não é tranquilo. É muito mais fácil seguir os impulsos e esquecer a lucidez. É muito mais fácil ser instintivo e dizer: eu prefiro me arrepender do que fiz. Agir com a razão é uma decisão de ignorar seus instintos se eles são estúpidos. É ser corajoso, forte. É decidir. Por você, contra você. Agir com a razão é expulsar menos do que você merece da sua vida, é tomar um banho de auto estima, é achar forças na fraqueza, é dizer não. Agir com a razão é sobretudo amar seus sentimentos. Até porque, se for tão irracional assim, no mínimo há um não motivo a se considerar. É não sofrer mais do que o necessário. É não permitir que ações previsíveis de um soldado inimigo permitido em território acabem com sua estratégia de vencer a guerra, de dominar o mundo. É saber que você não pode escolher contra quem vai enfrentar uma guerra, mas que as maiores guerras são contra si mesmo, onde você, contraditoriamente, contra si mesmo, é seu principal/único aliado.